o que Galípolo fará na presidência da autarquia?

“Que tipo novo de Banco Central é esse”? o que a ata do Copom disse e deixou de dizer

Como revela o 1% de queda do Ibovespa nesta quinta-feira (09), o mercado não gostou da última decisão de política monetária do Banco Central – e não foi exatamente pela redução do ritmo de afrouxo, que passou do então costumeiro 0,50 ponto percentual para modestos 0,25. A principal surpresa negativa foi o placar dividido praticamente meio a meio entre os defensores da manutenção e os da moderação dos cortes.

Votaram por uma redução de 0,25 p.p. Roberto Campos Neto, presidente do BC, Carolina Barros, Diogo Guillen, Otávio Damaso e Renato Dias Gomes – todos indicados à autarquia no governo Bolsonaro. Os indicados no governo Lula, Ailton de Aquino, Gabriel Galípolo, Paulo Picchetti e Rodrigo Teixeira, votaram pela redução de 0,50 p.p.

É a segunda vez na história do Banco Central que o comunicado mostra uma divisão tão acentuada. A primeira foi em agosto do ano passado, mas à época Galípolo – cotado para assumir a direção da autarquia – ficou no time hawkish, junto com o atual presidente, que deixa o cargo no fim deste ano. 

Para o Banco Inter, o debate sobre sucessão no BC deve ficar mais acalorado. O Itaú alegou que o “comunicado curto [após a decisão do BC] não detalhou racional dos que votaram por 0,50 p.p”. Em suma, mercado reagiu mal ao Copom “porque ele foi a pior das notícias possíveis”, comenta Beto Saadia, diretor de investimentos da Nomos. O comunicado “passa uma mensagem muito ruim, de arrocho muito forte agora e de irresponsabilidade, uma leniência excessiva na presidência seguinte”.

Bruno Corano, economista e investidor da Corano Capital, concorda com a visão negativa sobre a divergência no BC. Apesar de uma divisão no colegiado poder significar tão somente visões técnicas diferentes em relação à leitura do momento econômico, “nesse caso, há fortes indicadores de que existe a associação a um comportamento político tendencioso e não somente técnico”, justifica. 

Há sim um histórico de falta de unanimidade nas votações, prossegue, mas as decisões são habitualmente majoritárias. “Não se espera a unanimidade, mas quando a gente vê um placar muito acirrado é incomum, porque em geral as premissas e as bases [para as decisões] são claras, e elas dão a resposta. O papel dos agentes financeiros é apenas traduzi-las.”

Junto à acentuada distinção de opiniões do colegiado, a ausência do chamado forward guidance – sinalização sobre a próxima reunião do Copom – trouxe insegurança adicional. Mesmo o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, ficou desconfortável com a ausência de indicador de posição futura do Comitê, afirmando esperar a ata da próxima terça-feira (14).

Ademais, a reação negativa do mercado financeiro vista hoje também deve-se à percepção de que um nível reduzido de corte da Selic indica proximidade do teto mínimo para baixar os juros, o que é ruim para o mercado em geral, do mercado de capitais à economia como um todo, diz Corano. “É a confirmação de que o dinheiro vai continuar custando mais caro e a economia vai ter mais dificuldade em girar e prosperar.”

O economista também atribui a aversão ao risco ao que denomina sinalização política, “já que os membros que votaram por 0,50 p.p. coincidentemente são os membros com inclinação à gestão do PT”. Ele espera “uma conduta menos imparcial e mais política” em um futuro mandato de Galípolo, assim como “um maior risco de falta de independência e imparcialidade absolutas”. 

Já Pedro Afonso, presidente do Conselho Regional de Economia de São Paulo [CORECON], vai na direção oposta. Para ele, a substituição de dirigentes do BC vai redirecionar a autarquia a uma perspectiva de atendimento às necessidades da economia brasileira, “da busca de desenvolvimento mais igualitário para todos os setores econômicos, não apenas o setor financeiro”.

Para Afonso, a condução do BC sob Campos Neto, representada pelo grupo que votou pelo corte de 0,50 p.p. na decisão da última quarta-feira, caracteriza-se por uma visão “pró-investidores, querendo que a Selic continue alta porque 20% da dívida pública ainda é atrelada à Selic”. Já os que votaram pelo corte de 0,25 p.p. “estão pensando na economia nacional, na redução de custos para as empresas”.

Assim, o economista atribui a reação negativa do mercado hoje à percepção dos investidores de que há tendência para redução maior da Selic no futuro. “Claro que o mercado reagiria mal, porque o mercado, como a gente fala, não é exatamente o mercado global. É apenas o mercado financeiro, e o mercado financeiro vive de taxas maiores.”

Beto Saadia, por sua vez, considera uma grande curiosidade um futuro BC sob Gabriel Galípolo. “A gente tem que entender até que ponto o Galípolo vai respeitar a curva de juros futuros, que é o que importa para o Brasil”, concluiu o diretor de investimentos da Nomos.

Foto: Divulgação
Trade News

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